O caminho e a prática do Yoga
- Nathalia Morgana
- 30 de jan.
- 4 min de leitura
Há algum tempo, encontrei anotações antigas de uma palestra que havia assistido. Relendo essas palavras, me vi imersa em reflexões profundas sobre os fundamentos do Yoga e como ele se conecta com nossa vida cotidiana. Compartilho aqui o que recuperei dessas notas, para que também possam inspirar sua prática. Apesar de fragmentadas, elas trouxeram reflexões profundas e atuais sobre a prática e a filosofia do Yoga.

Os Três Deveres do Conhecimento
Entre as anotações, algo que chamou minha atenção foi o conceito dos "Três Deveres" no círculo do aprendizado, uma perspectiva essencial para quem caminha no caminho do Yoga:
Aprender do Passado: Honrar e aprender ao máximo com os professores e mestres que vieram antes de nós. Eles são os portadores do conhecimento que sustentou e moldou as práticas ao longo dos séculos.
Aprender na Própria Vida: Absorver e refletir através da experiência e da prática diária, reconhecendo que o aprendizado é um processo ao longo de toda a vida.
Transmitir o Conhecimento: Compartilhar o que aprendemos para manter o saber vivo e acessível. Transmitir é tanto um ato de generosidade quanto de responsabilidade.
Yoga e Psicologia: Pontos em Comum
As anotações também destacaram os paralelos entre os rishis (sábios do Yoga) e os pensadores das ciências humanas, como a psicologia. Todos eles compartilhavam cinco características essenciais:
Curiosidade: O desejo de compreender como o mundo funciona.
Observação: A habilidade de perceber a realidade com clareza.
Interconexão: O reconhecimento de que aprendemos com o passado e influenciamos o futuro.
Foco em Áreas Específicas: Cada um explorava um campo particular, alinhado com suas paixões e interesses.
Busca pela Vida Plena: O desejo de viver bem e aliviar o sofrimento, entendendo como nossos pensamentos, emoções e ações influenciam nossa experiência.
A Mente e Seus Quatro Componentes
No Yoga, entende-se que a mente é formada por quatro aspectos principais:
Manas: Os órgãos de ação e reação.
Citta: O lugar onde as impressões das experiências são armazenadas.
Ahamkara: O ego, ou a identidade que construímos.
Buddhi: A consciência superior, que nos permite discriminar e tomar decisões conscientes.
Frequentemente, ficamos presos nos três primeiros componentes, reagindo automaticamente às experiências sem acessar nossa consciência superior. A prática do Yoga nos ajuda a integrar esses aspectos e cultivar a Buddhi.
Koshas: Os Cinco Corpos
Os koshas representam as camadas do nosso ser, desde o físico até o espiritual. Cada camada tem suas próprias necessidades e deve ser nutrida diariamente:
Annamaya Kosha: O corpo físico, que requer cuidado através da alimentação e movimento.
Pranamaya Kosha: O corpo energético, nutrido pela respiração.
Manomaya Kosha: O corpo mental, que demanda calma e atenção.
Vijnanamaya Kosha: O corpo do intelecto e sabedoria.
Anandamaya Kosha: O corpo da bem-aventurança, a camada mais profunda e conectada ao divino.
Quando negligenciamos uma dessas dimensões, sentimos um desequilíbrio. A prática do Yoga busca integrar e harmonizar todos esses aspectos.
Integração: Corpo, Mente e Respiração
A prática do Yoga é mais poderosa quando integra corpo, mente e respiração. Os sistemas de Yoga englobam três ações principais:
Trabalhar o corpo físico e energético (prana).
Alinhar a mente e o intelecto superior (buddhi).
Experienciar a parte do nosso ser que é livre e nos conecta à felicidade suprema.
Esse tipo de prática não só ajuda a aliviar sofrimentos específicos – como dores no corpo ou agitação mental – mas também promove uma sensação de totalidade. Yoga, afinal, é yuj, a união que nos torna inteiros novamente.
Sofrimento e o Propósito do Yoga
Uma questão central que permeia tanto o Yoga quanto a filosofia é a investigação sobre o sofrimento. Essas anotações me levaram a refletir sobre algumas questões existenciais:
Por que estamos aqui? Qual o propósito da vida?
O que acontece após a morte?
Quais são as causas do sofrimento e como podemos superá-lo?
De acordo com o Yoga, o sofrimento surge da interação entre corpo, mente e mundo. Textos clássicos como o Bhagavad Gita e os Upanishads ensinam que o caminho do Yoga não é apenas transcender o mundo, mas aprender a viver nele de forma plena, conectando o Self ordinário ao verdadeiro Self (Atma), aquele que é imutável e eterno.
"O inferno é a mente em conflito" é uma frase que resume como nossas inquietações internas nos aprisionam. Patanjali ensina que o medo da morte é a principal fonte de sofrimento, alimentado pela ignorância de que a verdadeira essência do ser é imortal.
O paraíso, por sua vez, é descrito como uma mente livre de medos. Quando experimentamos a união com o todo – seja através da meditação ou de estados profundos de consciência – percebemos que aquilo que é essencial em nós nunca morre, reduzindo o temor da finitude.
Chakras e a Jornada Interna
Nossos chakras inferiores estão ligados aos instintos e necessidades básicas, enquanto os superiores conectam-se à expansão da consciência. Uma jornada de autoconhecimento requer que trabalhemos tanto as áreas mais instintivas quanto as mais sutis. Assim, podemos equilibrar nossas demandas terrenas e espirituais.
Viver nos Dois Mundos
Uma reflexão marcante é sobre viver simultaneamente em dois mundos: o externo e o interno. Dedicar tempo para interagir com o mundo é tão importante quanto o mergulho no autoconhecimento e na introspecção. Ambos são partes essenciais do caminho.
Porém, o estado da nossa mente define como navegamos entre esses mundos. Se estamos em conflito interno, nos tornamos prisioneiros da agitação mental. Por outro lado, uma mente livre de medos é capaz de experimentar o "paraíso" – um estado de harmonia e paz.
A Prática do Yoga como Integração
O Yoga não deve ser reduzido apenas às posturas (asanas), embora estas sejam uma parte importante do processo. Yoga é a integração de todas as nossas dimensões – corpo, respiração, mente e espírito – para que possamos viver de forma plena e consciente.
A prática eficiente de Yoga é aquela que promove essa união, permitindo que nos conectemos com nossa verdadeira natureza. Com essa compreensão, conseguimos viver de forma mais harmônica, contribuindo para nosso próprio bem-estar e para o do mundo ao nosso redor.
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