top of page

A Arte de Morrer: O Processo da Morte Consciente no Yoga

A morte é um dos maiores mistérios da existência humana, mas no Yoga, ela é compreendida como uma transição natural e um processo que podemos aprender a atravessar conscientemente.

mulheres deitadas na postura de Yoga Shavasana

Na filosofia do Yoga, o corpo físico é composto pelos cinco elementos. No momento da morte, o corpo físico passa por uma dissolução gradual dos cinco elementos – terra, água, fogo, ar e éter – em uma sequência específica, enquanto a consciência se prepara para se desligar do corpo. Esse processo influencia a forma como a alma deixa o corpo.


Os textos sagrados descrevem que essa passagem pode ser feita de forma confusa e inconsciente, ou de maneira intencional e serena, dependendo da preparação do praticante.


Compreender essa transição pode nos ajudar a preparar a consciência para atravessar esse momento com serenidade.


Os mestres do Yoga ensinam que a forma como morremos reflete a forma como vivemos. Se cultivamos presença, desapego e consciência ao longo da vida, a morte pode ser recebida com tranquilidade e aceitação.


Os Portões do Corpo e o Momento da Transição

📜 Bhagavad Gita VIII.12"Fechando os portões do corpo e atraindo a mente para o coração, depois eleve o prana para a cabeça."


Os textos antigos falam sobre os portões do corpo, que podem ser entendidos como as aberturas físicas e energéticas através das quais a alma pode deixar o corpo.


No sentido físico, há nove portões principais:

1-Ânus

2-Uretra

3-Boca

4-5-Narinas

6-7-Olhos

8-9-Ouvidos


No entanto, no contexto yogue, esses portões representam mais do que apenas aberturas físicas. Eles correspondem também aos centros energéticos (chakras) e ao controle sobre os sentidos.


A prática yogue da morte consciente (Samadhi Final) ensina que, se a energia vital (prana) for direcionada para cima da cabeça (Brahmarandhra), a passagem será mais elevada e a alma poderá alcançar a liberação do ciclo de renascimentos (Moksha).


Por isso, muitos mestres orientam para não tocar o topo da cabeça de uma pessoa morrendo, pois essa é a “porta” pela qual a alma tenta sair.


No momento da transição, um yogue treinado pode fechar os portões inferiores (desconectar-se dos sentidos físicos e do corpo) e elevar sua consciência para um estado superior, saindo pelo chakra coronário.


A Dissolução dos Elementos na Morte

Os textos antigos descrevem que, no momento da morte, os elementos se dissolvem gradualmente, levando à perda das funções sensoriais e físicas. Esse processo acontece na seguinte ordem:


1- Terra → Água

  • O corpo começa a perder sua força e densidade.

  • Sensação de peso extremo e fraqueza.

  • O apetite desaparece.


2- Água → Fogo

  • O corpo perde fluidos, a boca seca, os olhos se tornam opacos.

  • A temperatura do corpo oscila, e há perda de controle sobre os líquidos corporais.


3- Fogo → Ar

  • Sensação de frio intenso.

  • A visão se torna turva e a luz parece se apagar.

  • O fogo digestivo se extingue completamente.


4- Ar → Éter

  • A respiração se torna irregular e espaçada.

  • O tato e os movimentos cessam.

  • A alma se prepara para se soltar do corpo.


Quando o elemento ar se dissolve, a força vital (prana) se recolhe no chakra do coração. Esse é o momento crucial para o praticante avançado de Yoga, pois é quando ele pode elevar o prana para sair pelo topo da cabeça (Brahmarandhra), libertando-se do ciclo de renascimentos.


📜 Bhagavad Gita VIII.12"Fechando os portões do corpo e atraindo a mente para o coração, depois eleve o prana para a cabeça."


Por isso, é dito que tocar o topo da cabeça de alguém que está morrendo pode interferir na sua transição, pois esse é o ponto pelo qual a alma busca sair.


A Prática da Morte Consciente (Phowa e Samadhi Final)

No Budismo Tibetano, a prática chamada Phowa ensina o praticante a transferir sua consciência para um estado de iluminação no momento da morte. O objetivo é direcionar a energia para uma passagem suave e libertadora.


No Yoga, essa preparação é feita através do Samadhi Final, onde o yogue aprende a sair do corpo conscientemente. Muitos mestres escolhem o momento exato da morte, entrando em meditação profunda e deixando o corpo com plena consciência.


Como preparar-se para essa prática?

  • Meditação diária: Cultivar um estado de presença para não temer o desapego.

  • Pranayama e Bandhas: Controlar o fluxo de prana e aprender a direcioná-lo conscientemente.

  • Pratyahara: Retirar a atenção dos sentidos para voltar-se ao Eu interior.

  • Shavasana profundo: Experimentar a morte simbólica em cada prática.


O Livro Tibetano dos Mortos descreve esse momento como um portal de libertação:"Se, no momento da morte, a consciência estiver tranquila e clara, a transição será como o sol emergindo das nuvens."


Shavasana: A Prática de Morrer em Vida

A postura de Shavasana (Postura do Cadáver) é frequentemente subestimada, mas seu verdadeiro propósito é ensinar a morrer conscientemente.

  • Tensão e Soltura: Algumas tradições ensinam que devemos tensionar todo o corpo antes de relaxar profundamente, pois isso simula o momento em que a alma precisa reunir sua energia para se desprender.

  • Entrega Total: Ao praticarmos Shavasana com entrega e sem apego ao corpo, aprendemos a deixar ir com mais leveza, sem resistência ao fluxo natural da existência.

  • Direcionamento do Prana: No momento final, um yogue pode elevar sua energia ao topo da cabeça e sair do corpo de forma consciente e graciosa.

"Os monges budistas treinam a vida inteira para fazer isso no momento da morte, mas poucos conseguem." – Robert Thurman

🧘‍♂️ Como funciona a prática?

1- Deite-se em Shavasana e tome consciência do seu corpo.

2- Tensione cada membro um por um, ao máximo, e eleve-o alguns centímetros do chão.

  • Braços: Aperte as mãos em punhos, contraia os braços e levante-os ligeiramente. Solte de uma vez no chão.

  • Pernas: Estique os pés, contraia as coxas e levante as pernas levemente. Solte de uma vez.

  • Rosto: Franza a testa, aperte os olhos, contraia os músculos do rosto e depois solte.

  • Tórax e abdômen: Contraia e solte rapidamente.

3- No final, tensione todo o corpo de uma só vez!

  • Levante braços, pernas, cabeça e contraia todo o corpo por alguns segundos.

  • Solte de uma vez no chão, sentindo o calor e a energia se espalharem pelo corpo.

4- Agora, entre no relaxamento profundo de Shavasana.

  • Sinta o corpo completamente entregue.

  • Permita-se experimentar uma morte simbólica e renascer na quietude do momento presente.

Esse exercício nos ensina a entrega e o desapego, preparando a mente para soltar o corpo sem resistência quando o momento real da morte chegar.


Conclusão: A Vida Como Preparação para a Morte

O Yoga nos ensina que a morte não é uma experiência súbita, mas o reflexo de como vivemos.


Se vivemos em apego e medo, a morte pode ser um momento de confusão. Mas, se cultivamos desapego, presença e conexão com o Eu verdadeiro, podemos atravessá-la como uma passagem serena para o infinito.


🌿 A grande pergunta do Yoga não é “o que acontece depois da morte?”, mas sim: “como estamos vivendo agora para que, quando a morte chegar, possamos recebê-la em paz?”


📜 Goraksha Shataka, verso 94"A morte é a porta para a liberação. Aquele que compreende isso não tem medo da morte."

 
 
 

Comments


NathaliaMorgana_LOGO_Secundário - branco .png

Av. Diederichsen, 1100 - Sala 75

CEP: 04310-000 - São Paulo-SP

contato@nathaliamorgana.com

Telefone: (11) 95400-1715

CNPJ: 34.569.804/0001-28

Cada serviço possui sua própria política de reembolso. 

Copyright © 2023 Nathalia Morgana -  Todos os direitos reservados

bottom of page