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Como demitir um aluno

Durante muito tempo, achei que precisava aceitar todo mundo. Como professora de Yoga, me ensinaram que acolher é essencial, que o julgamento precisa dar lugar à empatia, que todo ser humano merece o benefício da dúvida. E eu acredito nisso, profundamente. Mas também aprendi, na prática e na dor, que há uma diferença importante entre acolher e permitir que alguém desequilibre todo um espaço de cuidado.

tapete de Yoga vazio

Hoje eu quero contar uma história real. De uma aluna que eu precisei demitir. E mais do que isso, quero conversar sobre algo que raramente é dito, especialmente entre nós, professores e professoras que sustentamos nosso trabalho com tanto amor: não, você não precisa aceitar todo mundo na sua aula.


A história da aluna que tirava a paz do Shala

Ela chegou até mim cheia de dores. Físicas, sim. Mas também emocionais. No começo, me envolvi na tentativa de ajudar, como faço com todos que cruzam o caminho do Yoga. Mas logo percebi que ela não queria ajuda — queria controle. Queria impor. Queria que o mundo se moldasse ao desconforto dela.


Ela reclamava de tudo. Da temperatura da sala, do cheiro dos óleos essenciais, da intensidade da aula, da playlist, da luz... Chegava atrasada e, ao entrar, bufava alto, respirando com irritação, como quem já está impaciente antes mesmo de sentar no tapetinho. Isso não só atrapalhava o fluxo da prática, mas quebrava a energia do grupo, que vinha construindo um ambiente de respeito e silêncio.


O mais grave, no entanto, era a maneira como ela colocava em xeque o próprio Yoga. Após cada aula, vinha uma reclamação: "Aquela postura machucou minha lombar", "Desde a torção, estou com dor no pescoço", "O alongamento de ontem piorou meu joelho", "Depois da aula fiquei com dor de cabeça". Eu a ouvia, tentava ajustar, explicava os cuidados, mas ela seguia sem escutar. Descobri que fazia o mesmo com outros profissionais. Comecei a perceber um padrão: ninguém servia. Todos estavam errados. Menos ela.


Quando o Yoga vira palco de drama e projeção

Eu sei que muitos alunos chegam ao Yoga em sofrimento. E que é natural projetarmos, num primeiro momento, nossos desconfortos no mundo externo. Mas há uma diferença enorme entre isso e uma postura crônica de resistência, agressividade e falta de autorresponsabilidade. Essa aluna não queria se entregar ao Yoga. Ela queria que o Yoga se curvasse às suas dores não resolvidas.

E isso é impossível.


O Yoga exige entrega. Exige disposição. Exige humildade para aprender, desaprender, ouvir o corpo com sinceridade e não com autossabotagem. Não é mágica, mas é potente. E quando alguém entra num espaço como o Shala querendo apenas reafirmar suas dores, em vez de curá-las, esse ambiente sofre.


Meus outros alunos começaram a comentar, com gentileza, mas desconforto. Eu percebi que não era só uma questão entre ela e eu — era uma questão com o grupo. E o grupo também importa. A energia de um espaço é moldada por todos que estão nele. Um aluno ou aluna que chega com desrespeito, com rigidez, com reclamações recorrentes e com um comportamento que desequilibra o coletivo, precisa ser olhado com honestidade.


O dia em que eu disse: "Eu não sou a professora certa pra você"

Essa frase mudou tudo. Eu lembro até hoje da sensação no meu corpo quando pronunciei essas palavras. Ao contrário do que imaginei, ela não discutiu. Apenas ficou em silêncio. Talvez porque, no fundo, ela soubesse. Eu estava dizendo algo que ninguém havia dito antes: que o problema talvez não fosse o mundo, mas algo dentro dela mesma.


Claro, não foi fácil. Eu passei dias pensando se tinha feito a coisa certa. Me questionei como professora, como profissional, como ser humano. Mas com o tempo, tudo se alinhou. O grupo respirou. A paz voltou. E o meu amor pelo Yoga permaneceu firme. Entendi que proteger o espaço também é uma forma de acolhimento — só que um acolhimento coletivo, que valoriza o bem-estar de todos.


Não, você não precisa aceitar todo mundo

Essa é a parte mais difícil de dizer. Mas também a mais libertadora. Se você, professora ou professor de Yoga, terapeuta, educadora, está lendo isso agora: por favor, não aceite qualquer pessoa no seu espaço apenas por medo de perder dinheiro, seguidores ou reputação. O custo de manter alguém que desrespeita seu trabalho, desrespeita o grupo e a prática é alto demais.


Sim, precisamos nos sustentar. Sim, o nosso trabalho é, muitas vezes, nossa principal ou única fonte de renda. Mas não à custa da nossa saúde mental. Não às custas da destruição de um campo que leva tanto tempo pra ser cultivado com amor.

Eu já não preciso mais demitir alunos. Hoje, percebo que quem não se conecta, naturalmente não permanece. Porque aqui há firmeza. Há clareza. E há compromisso com o que é essencial.


O Yoga não é pra quem quer controle. É pra quem quer entrega.

E às vezes, essa entrega começa com a simples, poderosa e desconfortável arte de dizer NÃO. Dizer não pra quem não respeita o espaço.


O Yoga ensina o desapego. Ensina a confiar no fluxo da vida. Ensina a não reter o que não serve. E, principalmente, ensina a preservar aquilo que é sagrado.


Dizer não também é Yoga. Dizer não também é amor. Dizer não também é liberdade. E foi por isso que eu demiti uma aluna. E por isso sigo, hoje, com mais clareza do que nunca: meu Shala não é pra todos.


Guia: Como Demitir um Aluno com Consciência e Respeito


1. Observe o padrão, não só o episódio

Antes de tomar uma decisão, perceba se o comportamento inadequado é pontual ou recorrente. Um erro isolado pode ser resolvido com diálogo. Mas padrões repetitivos (reclamações, atrasos, desrespeito, energia negativa constante) merecem atenção.


2. Converse em particular (nunca em grupo)

Jamais exponha o aluno diante da turma. Marque um momento reservado e converse de forma tranquila, mas firme. Evite tom acusatório e foque nos impactos do comportamento.

Exemplo de abertura:🗣️ “Eu queria conversar com você sobre como tem sido sua experiência aqui no Shala. Tenho observado algumas coisas e senti que seria importante alinharmos expectativas.”


3. Use a linguagem da autorresponsabilidade

Fale em primeira pessoa. Mostre como aquilo afeta o ambiente e o seu trabalho como professora.

📌 Exemplo:“Tenho percebido que sua forma de se colocar nas aulas tem trazido certa tensão para o grupo, e isso interfere na proposta do nosso espaço, que é de acolhimento e introspecção.”


4. Seja clara e gentil na decisão

Se decidir encerrar o vínculo, diga com clareza e compaixão. Não enrole, nem prolongue se você já tem certeza.

📌 Exemplo:“Sinto que, neste momento, não sou a professora ideal para te acompanhar no seu processo. E acredito que talvez outro espaço possa te atender melhor.”


5. Não se justifique demais

Você não precisa convencer a pessoa. O objetivo não é obter o “aval” dela, mas comunicar sua decisão com integridade.


6. Ofereça um encerramento digno

Se possível, indique outro profissional ou espaço (se sentir que isso seria ético e adequado). Ou apenas agradeça pelo tempo que ela esteve com você.


7. Confie no fluxo e proteja sua energia

A culpa vai tentar aparecer — especialmente se você é cuidadora por natureza. Mas lembre-se: seu trabalho é manter o campo limpo para quem realmente quer estar presente.


💬 “Proteger o espaço também é acolhimento.”


E lembre-se:

Você não está sozinha. Dizer não também é um ato de amor. Seu espaço não é para todos — e essa é a sua força.

 
 
 

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