O Yoga começa onde o controle termina
- Nathalia Morgana

- há 1 dia
- 3 min de leitura
A última semana parecia uma sequência de testes do Universo. Tudo o que podia sair do eixo saiu, como se a vida tivesse decidido apertar todos os botões ao mesmo tempo só para ver se eu realmente lembrava de respirar. O carro deu problema um dia antes do retiro, e eu precisei alugar outro. Quando achei que estava resolvido, o carro alugado também quebrou. E lá fui eu de novo, em plena véspera do evento mais aguardado do mês, trocando de carro, reorganizando rotas e tentando manter alguma serenidade no meio do caos.
Como se isso não bastasse, a gráfica entregou todos os materiais do retiro completamente errados. A cartinha, os cards, as impressões, absolutamente nada veio como pedi. Voltei lá, refiz tudo, esperei. E no meio de toda essa maratona, percebi que minha respiração já estava naturalmente mais profunda, mais consciente, mais ampla. Não por heroísmo, mas porque o Yoga me treinou exatamente para momentos assim.
Enquanto eu resolvia um problema atrás do outro, comecei a perceber que o caos não estava atrapalhando o retiro. Pelo contrário, parecia que ele estava preparando o terreno, mexendo nas camadas internas, pedindo para eu ficar realmente presente. No Yoga, a gente aprende a criar espaço antes de reagir, e foi isso que me sustentou. Em vez de entrar no looping da frustração, eu me perguntava onde existia espaço para suavizar a experiência. E esse espaço estava sempre na respiração.
Quando finalmente subi a montanha, senti meu corpo alinhar instantaneamente, como se ele soubesse antes da mente que agora tudo estava no seu devido lugar. Os participantes começaram a chegar e, aos poucos, o ambiente ganhou vida. Cada pessoa trouxe sua história, sua intenção, seu silêncio, sua necessidade. A roda de abertura foi uma das mais sinceras que já vivemos juntos. Talvez porque todos chegamos por inteiro e com uma vontade real de estar presentes. Inclusive eu.

Sempre digo que guio um retiro porque preciso dele tanto quanto os participantes. E dessa vez isso ficou ainda mais evidente. A energia do grupo, a montanha, o tempo nublado e chuvoso, os momentos de quietude, as práticas, os olhares, tudo isso criou um campo de presença que não tem como explicar, só sentir. A cada respiração conjunta, parecia que algo doía menos e algo abria mais.
Ao longo dos dias, caminhamos pelo silêncio, pela introspecção, pela leveza, pelas práticas profundas e, acima de tudo, pela presença. O desconforto encontrou acolhimento, o cansaço encontrou descanso e o corpo encontrou espaço para se reorganizar. Na fogueira, compartilharam histórias. Na prática, liberaram tensões. No silêncio, cada um encontrou respostas que talvez nem soubesse que buscava.
Percebi que a semana caótica não foi um obstáculo antes do retiro, mas parte essencial dele. Era como se a vida estivesse perguntando se eu realmente queria estar inteira ali. E eu queria. Os imprevistos só serviram para me lembrar que o controle é uma ilusão confortável, e que o Yoga começa exatamente onde o controle termina. No fundo, tudo aquilo que parecia desandar estava só abrindo caminhos que eu não teria acessado se estivesse tudo “perfeito”.
O retiro me mostrou, mais uma vez, que não existe cura sem presença. Presença muda tudo. Muda a forma como você escuta, sente, respira, observa e se relaciona com o mundo e com você mesma. Nos dias em que estivemos juntos, pude sentir essa presença com uma intensidade rara, algo que só acontece quando a vida nos prepara antes de entregar a experiência.
O caos antes do retiro virou clareza durante o retiro. A bagunça virou caminho. Os atrasos viraram portais. O desconforto virou profundidade. E eu voltei da montanha diferente, mais alinhada, mais inteira e com a certeza de que tudo aconteceu exatamente como precisava acontecer.
Se você esteve comigo nesses dias, eu que agradeço por ter vivido essa experiência ao seu lado. Se não esteve, continue por perto. Outras jornadas estão chegando. E que a gente siga criando espaço entre a vida e a reação, porque é justamente nesse espaço que nós nos transformamos.
(Você pode conferir todas as fotos e vídeos do Retiro em nosso instagram na parte "destaques")





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