A maioria dos alunos chegam até o Yoga com o objetivo de desenvolver força e flexibilidade por meio da prática do asana. Não os culpo, pois são essas posturas maravilhosas que são mostradas nas redes sociais. Meu papel como professora é ensinar e educar os alunos na tradição do Yoga e mostrar o poder do asana para nos conduzir aos objetivos mais elevados da Yoga que é o domínio da mente e uma conexão mais profunda com o eu interior.
Quando nos concentramos apenas na performance e buscamos executar as posturas perfeitas ou quando nossa prática se torna mecânica e rotineira, nossa atenção é externalizada e perdemos a sensibilidade para o mundo interior.
Como podemos praticar de uma forma que crie um senso mais profundo de consciência?
Nos Yoga Sutras, Patanjali diz "Sthira sukham asanam" ou seja, o asana deve ser estável e confortável. A estabilidade e o conforto descrevem um estado interior de ser, bem como a experiência do corpo físico em uma postura asana. É um estado de estarmos “sentados” e centrados em nós mesmos, em que o corpo está confortável com a mente e a mente está confortável com o corpo. Dessa forma, o corpo pode suportar o estado expansivo de uma mente consciente, clara e calma.
Mas, com muita frequência, sacrificamos nosso bem-estar interior devido à falta de consciência corporal e uma mente destreinada. No nível físico, sentimos isso como uma incapacidade de respirar e de nos movimentarmos livremente. A tensão se instala em nossos ombros, pescoço, pelve, parte inferior das costas e mais profundamente nos órgãos. Assim, em vez da mente se expandir, ela recua com o desconforto.
O objetivo do asana não é desenvolver força ou flexibilidade, embora isso aconteça é apenas a consequência da prática. O objetivo é condicionar o corpo para que possamos meditar mais e assim nos conduzir a um estado mais elevado de consciência.
Os asanas na literatura tradicional do Hatha Yoga:
GORAKSHA SAHTAKA (Séc. X): diz que shiva enumerou 84 asanas, mas de todos, só dois merecem atenção especial, sidhasana e padmasana.
HATHA PRADIPIKA (Séc. XV): 15 asanas, dos quais, todos são sentados ou deitado.
GHERANDA SAMHITA (Séc. XII): 32 asanas, apenas 1 asana em pé Vrksasana.
Você pode estar se perguntando então: mas o Yoga atual não é praticado predominantemente em pé, com posturas como guerreiro, trikonasana e saudações ao sol? Sim, mas todas essas posturas em pé são frutos da modernização que o Yoga sofreu.
As posturas em pé e sequências dinâmicas, como saudação ao sol, são naturalmente menos estáveis, menos propícios para a auto investigação. E o asana existe para auto investigação, auto observação, percepção, meditação, pro caminho supremo, êxito espiritual, pra fusão com o absoluto, dissolução com o som. Os antigos Yogis selecionavam posturas mais estáveis predominantemente.
O asana como postura psicofísica:
Asana pode não apenas aliviar os padrões de tensão e restaurar uma amplitude de movimento normal e confortável, mas também aguçar nossos sentidos, atrair a mente de volta ao corpo e ancorar nossa consciência no testemunho interior sempre calmo e sempre claro. Para isso, movimentos simples praticados em coordenação com a respiração podem ser mais eficazes do que posturas desafiadoras, pois nos dão a oportunidade de desenvolver uma consciência mais profunda, liberar emoções e facilitar uma abertura do corpo por dentro.
O ponto final:
O asana não é e nunca foi a parte principal da prática de Yoga. O asana é importante mas é apenas uma peça nesse grande quebra-cabeça chamado Yoga. Dê tanta importância para as outras técnicas quanto você dá para o asana. E lembre-se que o Yoga é sobre o que acontece da pele para dentro, e não sobre posturas e posições.
Boa prática!
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